Ponyo on the Cliff by the Sea


(2008) - Realização de Hayao Miyazaki.

  • A temática central mantém-se mas adquire um estádio distinto desta vez: apesar do grande mestre elevar de novo como mote a aproximação à mãe-natureza fá-lo desta vez numa abordagem marítima o que por seu turno possibilitou toda uma nova aplicação multicolor de arregalar os olhos: os cenários são coloridos, vivos, envolventes e dinâmicos. Ponyo é visualmente fantástico, exuberante em forma e cor ascendendo neste campo talvez como um dos maiores baluartes de Hayao Miyazaki.
  • Surge de novo a emancipação em jogo mas de forma diferente formulando-se sob tracejado inocente um compromisso, uma relação inocente mas resoluta onde os indivíduos se emancipam face aos seus pais e ao tecido familiar transacto. Acaba por ser também uma viagem e muitos são os elementos e conceitos inseridos em Ponyo, repescados de outros trabalhos: o próprio túnel que principia a viagem onírica de Chihiro encontra-se deliberadamente presente. A narrativa de resto é linear, ainda que dispondo inteligentemente pormenores do quotidiano providenciados pelo habitat enunciado, neste caso o de uma povoação costeira surgindo à tona detalhes de avultado interesse como a capacidade dos pescadores de algumas embarcações comunicarem entre si ou com a plataforma terrestre através da luz. Encontra-se também presente a habitual mensagem/crítica face à negligência do homem e mesmo violência e desrespeito face à natureza e meio envolventes.
  • Continuamos a encontrar aquela vertente “fofinha”e aquele travo a inocência de outros trabalhos como My Neighbour Totoro mas em termos de andamento da narrativa temos uma dinâmica que se quedará para mim ligeiramente atrás de trabalhos predecessores (mesmo considerando metáforas e a cena fantástica já perto do final onde o realizador nos confronta com a morte e nos demonstra como a fantasia consegue ser maravilhosamente transcendente mesmo na interpretação de um conceito tão taciturno). Falo ao nível da narrativa: excêntrica, tutelada pelo olhar de uma criança e talvez por isso mesmo mais linear e falo também ao nível da construção de personagens, às quais escapa a dimensão de uma Chihiro ou de um Totoro. Relativamente à dinâmica da animação essa sim está sublime, cheia de movimento, ritmo e cor sobretudo quando a tela foca a acção no mar.
-10-

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