Spirited Away

Título Original: Sen to Chihiro no Kamikakushi 千と千尋の神隠し 

Género: Aventura 
Director: Hayao Miyazaki 
Estúdio: Studio Ghibli 
Emissão: 2001 
Duração: 124 minutos. 

 Once you do something, you never forget. Even if you can't remember. 


  • A mudança inquieta-nos sempre o espírito, agita o nosso mundo e a nossa imaginação, aguça as nossas expectativas e força também um trago de nostalgia face ao sítio que tomamos por origem. Spirited Away, bem à semelhança de outros trabalhos de Miyazaki utiliza esta matriz na narrativa contando-nos a história de Chihiro, uma criança que sente que a mudança de casa transformará incontornavelmente a sua vida. Este sentimento leva-a primariamente a uma rejeição perante a nova realidade. Miyazaki é exímio na sua arte, na criação das personagens mas é igualmente mágico na forma como conta a sua história e como escolhe as suas palavras – nós não temos de ter medo de esquecer as coisas, pois estas sendo importantes ficarão sempre guardadas dentro de nós. Só temos portanto de olhar em frente, seguir o nosso rumo sem olhar para a frente com medo e sem olhar para trás com tristeza. 
  • Temos aqui em mãos uma verdadeira viagem do espírito, repleta de elementos oníricos. Surgem-nos adiante temas centrais nas obras do grande mestre nipónico como a adaptação a um espaço estranho; a preocupação com os nossos pais; a questão de, mais do que uma simples integração, passar realmente a pertencer a um determinado local e aprendendo também aí a amar mãe-natureza, de lançarmos à terra novas raízes e sobretudo deixando o nosso Eu ser livre o suficiente para se dar a estes objectivos, a deixar-se crescer com estas experiências mas não perdendo a identidade neste processo. As referências de Miyazaki a estes aspectos são elementos primordiais – para seguirmos o nosso rumo, aquilo que queremos, nunca podemos esquecer o nosso nome (quem realmente somos).
  • A construção das personagens é simplesmente deliciosa! Não só as centrais mas também aquelas mais periféricas como os simples vultos que se encontram no comboio em que Chihiro viaja – personagens sem rosto, de cor negra e aparência deprimida, no fundo desconhecidos, estranhos que por vezes nos acompanham de tão perto mas que por magia parecem não fazer parte da nossa realidade, alheados e talvez até manietados por responsabilidades, preocupações e rotinas como que se Miyazaki nos quisesse também alertar para este perigo, quando mesmo em movimento estas pessoas podem perder aos poucos a sua liberdade e em última instância a sua identidade – e como podem ser estas pessoas felizes? 
  • Encontramos também ao nível das personagens espíritos e deuses e personificações humanas da própria mãe-natureza, pela qual Miyazaki nutre um amor incondicional – surge também aqui a habitual crítica à negligência do Homem e à sua poluição. O grande mestre aproveita portanto para brincar a seu belo prazer com as personagens, dando-lhes incontáveis formas e cores e invertendo papéis (dando a forma de um rapaz a um rio e dando forma de espíritos a humanos). 
  • A narrativa e o rápido curso da acção estão aqui, para mim melhor construídas do que em My Neighbour Totoro ou em Ponyo. Não posso falar de um público-alvo pois os filmes de Miyazaki focam-se sempre nos menos graúdos e escalam depois para todas as idades mas posso dizer que Spirited Away alcança (sem complicar) uma outra densidade textual que é mais linear nas duas obras supra mencionadas. Para mim uma mais-valia que se une magistralmente a uma paleta adorável e colorida que assenta num traço e em formas igualmente ternurentas não esquecendo como todos os demais elementos são habilmente construídos e conduzidos até ao tradicional “the end” onde somos abraçados pela música do filme, uma daquelas que reforçam as linhas de força do trabalho que vimos, deixando-nos a alma despida mas limpa.

10


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